“Não é racismo, é posicionamento…”

Quem nunca ouviu um pedido de refação ao trabalhar com comunicação, design e afins? É algo totalmente normal para quem está acostumado com o dia a dia de um trabalho que depende da aprovação de grupos de pessoas que nem sempre entendem a ideia, ou não estão familiarizadas, ou não gostaram daquele trabalho específico.

Com o tempo, a gente vai percebendo o perfil do cliente e adaptando todas as peças a ele, sempre receosos de ouvir aquele famoso “queria uma versão mais clean” ou “quero a marca maior”. Daí, depois de muitos questionamentos e orientações, você troca o amarelo pelo verde, mesmo que a marca da empresa seja amarela; troca o texto coloquial para outro extremamente formal, mesmo que o seu público não vá entender a sua mensagem; troca o preto pelo branco mesmo que não crie nenhuma identificação e esse último vale para todos os sentidos, se é que vocês me entendem.

Algumas refações são simples, não nos ferem moralmente, não brincam muito com o ego, são apenas ócios do ofício e realizamos sem questionar, sem perguntar, em especial, quando se trata apenas de gosto pessoal e não há decisões técnicas nem morais em jogo. Talvez a imagem A fique melhor que a imagem B mesmo… Mas quando a refação parte de algo que você acredita que vai dar certo? De uma ideia que você acha que é a chave do sucesso da sua campanha? Ou quando ela vem embutida de um preconceito que fere não apenas os seus valores, a sua moral, mas agride a você como pessoa? O que fazer quando isso acontece?

Essa é a parte mais difícil porque a crítica ao seu trabalho é corriqueira e comum para quem trabalha com comunicação. A falta de confiança que os donos de organizações diversas tem no seu conhecimento é facilmente resolvida mostrando segurança e domínio do assunto e do que está apresentando. No entanto, preconceitos não são tão fáceis de ser diluídos e, quando eles surgem, atacam diretamente o seu âmago. É quando você ouve: “Não é racismo, é posicionamento…”. É como se aquela campanha, aquele post ou até mesmo a pessoa que pediu a refação perdesse o brilho, mas, no final, quem sai ferido, magoado e machucado é sempre você.

Eu gostaria de saber dizer o que fazer nessas horas, queria saber o que dizer nessas horas. Gostaria de poder emular os filmes e sair com classe e segurança, mas é apenas difícil porque raramente você tem controle sobre as suas emoções. Em alguns momentos, você explode, em outros você questiona e, em tantos outros, você abaixa a cabeça e refaz. Depende muito da sua situação.

Esse texto, meu amigo, infelizmente, não foi para te dar uma resposta. Foi um desabafo e talvez um ponto de identificação, entre mim, você e todos nós que temos algo em comum, mas nem precisamos dizer o que é, não é mesmo?!

Mateus Gonçalves
Relações Públicas na Marcô Comunicação

 

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